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Vicissitudes do desejo do analistaTopologia e desejo do analista: vicissitudes
que jamais é senão reencontrado, isto é, jamais realmente reen-
contrado” (LACAN, 1961, p. 240). Objeto que está sempre no
horizonte de nossas fantasias, e pelo fato de que nunca pode ser
apreendido, transmissível e partilhável, nos joga no mundo dos
objetos intercambiáveis, utilitários.
É isso que faz a hiância entre a constituição do objeto
privilegiado que surge na fantasia e toda espécie de ob-
jeto do mundo dito socializado, do mundo da conformi-
dade (LACAN, 1961, p. 240).
É então com o grande Phi, “primeira letra da palavra phantasia”
(LACAN,1976, p. 123), que Lacan recorta, através do fantasma,
o objeto agalmático,3 o lugar em que o velho Sócrates, Autre da
cena, “não é mais que o invólucro daquilo que é objeto do dese-
jo”, objeto que de degradado como vimos que pode ser, através
da transferência, passa a objeto decaído: de A para a. Ainda em
“O Seminário 8: a transferência” lemos Lacan comentando o
que está em jogo:
O que constitui o Triebregung (moção pulsional), em
função no desejo – o desejo na sua função privilegiada,
distinto da demanda e da necessidade – tem sua sede
no resto, ao qual corresponde na imagem essa miragem
pela qual ela é justamente identificada com a parte que
lhe falta, e cuja presença invisível dá ao que se chama
de beleza o seu brilho. [...] Aqui está o ponto central em
torno do qual ocorre aquilo que temos para pensar sobre
a função do objeto a (LACAN, 1961, p. 373).
3 Vemos que é primeiramente como ágalma, objeto de desejo, objeto de
amor que Lacan liga a função do analista aproximando-o, mais uma vez,
do Falo, do símbolo ɸ.
24 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017
que jamais é senão reencontrado, isto é, jamais realmente reen-
contrado” (LACAN, 1961, p. 240). Objeto que está sempre no
horizonte de nossas fantasias, e pelo fato de que nunca pode ser
apreendido, transmissível e partilhável, nos joga no mundo dos
objetos intercambiáveis, utilitários.
É isso que faz a hiância entre a constituição do objeto
privilegiado que surge na fantasia e toda espécie de ob-
jeto do mundo dito socializado, do mundo da conformi-
dade (LACAN, 1961, p. 240).
É então com o grande Phi, “primeira letra da palavra phantasia”
(LACAN,1976, p. 123), que Lacan recorta, através do fantasma,
o objeto agalmático,3 o lugar em que o velho Sócrates, Autre da
cena, “não é mais que o invólucro daquilo que é objeto do dese-
jo”, objeto que de degradado como vimos que pode ser, através
da transferência, passa a objeto decaído: de A para a. Ainda em
“O Seminário 8: a transferência” lemos Lacan comentando o
que está em jogo:
O que constitui o Triebregung (moção pulsional), em
função no desejo – o desejo na sua função privilegiada,
distinto da demanda e da necessidade – tem sua sede
no resto, ao qual corresponde na imagem essa miragem
pela qual ela é justamente identificada com a parte que
lhe falta, e cuja presença invisível dá ao que se chama
de beleza o seu brilho. [...] Aqui está o ponto central em
torno do qual ocorre aquilo que temos para pensar sobre
a função do objeto a (LACAN, 1961, p. 373).
3 Vemos que é primeiramente como ágalma, objeto de desejo, objeto de
amor que Lacan liga a função do analista aproximando-o, mais uma vez,
do Falo, do símbolo ɸ.
24 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017