Page 25 - revista_ato_topologia_e_desejo_do_analista_ano3_n3
P. 25
Bárbara Guatimosim Vicissitudes do desejo do analista
O falo, mesmo tão frequentemente elidido, é aquele que,
de todos os signos possíveis, “reúne em si mesmo o signo,
o meio de ação e a própria presença do desejo como tal”
(LACAN, 1961, p. 241). Essas condições fazem emergir o
falo enquanto “presença real”, o que o faz também insu-
portável.
Ali onde vemos simbolicamente o falo, é justamente
onde ele não está ali onde nós o supomos sob o véu, ali
onde ele está manifestado na ereção do desejo, é neste
esquema, do lado de cá do espelho. Se ele está ali diante
de nós, no corpo fascinante de Vênus (referência ao qua-
dro de Boticcelli ‘O nascimento de Vênus’), é que justa-
mente na medida em que ele não está ali (LACAN, 1961,
p. 372).
Lacan desfia nesse ponto, em longos exemplos, as várias
e muitas degradações a que pode ser submetida essa sede
do desejo. Essa presença real, esvaziante, surge no hiato
entre os significantes (presença emergente que Lacan vai
depois atribuir também ao objeto a) e pode sofrer todo tipo
de maus tratos:
[...] a histeria pode fazer entrar, no lugar do vazio, seu
corpo, o corpo do outro e mesmo a falta como bandeira
de sua demanda obturante. A neurose obsessiva maltra-
ta o falo escamoteando-o e tamponando a falha na obla-
tividade, idealização e degradação; o objeto fóbico eleito
preenche a fenda, e o fetiche se substitui à castração no
mecanismo perverso (LACAN, 1961, p. 256).
É aí, nessa ausência (também) real que o grande ɸ presentifica,
que Lacan, com Freud, articula a aventura do nosso desejo, a
gravitação do nosso desejo “com o objeto desde sempre perdido,
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017 23
O falo, mesmo tão frequentemente elidido, é aquele que,
de todos os signos possíveis, “reúne em si mesmo o signo,
o meio de ação e a própria presença do desejo como tal”
(LACAN, 1961, p. 241). Essas condições fazem emergir o
falo enquanto “presença real”, o que o faz também insu-
portável.
Ali onde vemos simbolicamente o falo, é justamente
onde ele não está ali onde nós o supomos sob o véu, ali
onde ele está manifestado na ereção do desejo, é neste
esquema, do lado de cá do espelho. Se ele está ali diante
de nós, no corpo fascinante de Vênus (referência ao qua-
dro de Boticcelli ‘O nascimento de Vênus’), é que justa-
mente na medida em que ele não está ali (LACAN, 1961,
p. 372).
Lacan desfia nesse ponto, em longos exemplos, as várias
e muitas degradações a que pode ser submetida essa sede
do desejo. Essa presença real, esvaziante, surge no hiato
entre os significantes (presença emergente que Lacan vai
depois atribuir também ao objeto a) e pode sofrer todo tipo
de maus tratos:
[...] a histeria pode fazer entrar, no lugar do vazio, seu
corpo, o corpo do outro e mesmo a falta como bandeira
de sua demanda obturante. A neurose obsessiva maltra-
ta o falo escamoteando-o e tamponando a falha na obla-
tividade, idealização e degradação; o objeto fóbico eleito
preenche a fenda, e o fetiche se substitui à castração no
mecanismo perverso (LACAN, 1961, p. 256).
É aí, nessa ausência (também) real que o grande ɸ presentifica,
que Lacan, com Freud, articula a aventura do nosso desejo, a
gravitação do nosso desejo “com o objeto desde sempre perdido,
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017 23