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Vicissitudes do desejo do analistaTopologia e desejo do analista: vicissitudes

desejo. Esse desejo tem sua especificidade e não é “puro”,
como diz Lacan, encerrando “O Seminário 11: os quatro
conceitos fundamentais da psicanálise”:

O desejo do analista não é um desejo puro. É um de-
sejo de obter a diferença absoluta, aquela que intervém
quando, confrontado com o significante primordial, o
sujeito vem, pela primeira vez, à posição de se assujeitar
a ele (LACAN, 1964, p. 260).

A noção do desejo do analista foi-se construindo desde
Freud e depois dele. Sim, desde Freud, porque temos de
sua prática desejante exemplos notáveis tanto de sua re-
tidão, em manter-se no lugar do analista, quanto de seus
desvios, incluindo sua sagaz autocrítica de ser “por demais
pai” com seus pacientes. (Muitos consideram, por outros
rumos tomados pela psicanálise, que Winnicott, por exem-
plo, teria sido por demais mãe, na esteira de M. Klein.)

É com Lacan, principalmente, que vemos se configurar
mais claramente o conceito do desejo do analista e, de modo
mais notável, no final de “O Seminário 7: a ética da psica-
nálise”, de 1959-1960,2 e em “O Seminário 8: a transferên-
cia”, de 1960-1961, quando interroga mais insistentemente
a operação analítica e os riscos de seus deslizamentos.

O objetivo não é nada menos que colocar, no ponto
máximo daquilo que articulamos este ano, a função do
desejo não apenas no analisando, mas essencialmente no
analista” (LACAN, 1961, p.174).

2 Capítulo: A demanda de felicidade e promessa analítica.

20 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017
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