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Vicissitudes do desejo do analistaTopologia e desejo do analista: vicissitudes
Lacan deixa claro nesse “Discurso a EFP”, apesar das referên-
cias que em alguns pontos nos escapam em um diálogo um tan-
to obscuro, que se fazer merda, como atitude analítica, não é
se postar como estátua passiva do cocô alheio, do pássaro do
amor de transferência que nos pousa. Não é um lugar para ma-
soquismos. A cadência como dejeto não é por que assim o quer
o grande psicanalista da Rua do Olmo e nem mesmo Deus, com
sua divina providência. O lugar decaído é estrutural e fim da-
quele que trabalha para que, na peleja analítica, vença a divisão
do sujeito, a queda dos ideais e para que o fruto da castração, o
objeto a, resto a ser descartado, aquilo a que se presta o analista,
permita que Um não seja todo inteiro, mas que possa ser d’Um
entre outros, com sua diferença.
O analista, como Freud desconfiou, não se conforma à fantasia
do Outro; não é por demais pai, o é por de menos: o analista,
no desvelo de sua função é um resto, uma outra versão do pai
morto, fruto da lei da castração. O analista é sumo de restos pa-
rentais, objeto a, fruto da operação de ɸ sobre A(efeito de corte
que podemos também ler na fórmula da sexuação).
Temos aí, na operação analítica, dois momentos que atualizam a
castração no que esta possa ter ainda ficado no rochedo imagi-
nário. No primeiro momento, a queda da libra de carne da supo-
sição do saber – perda seca: “perda seca, que não salda nenhum
ganho, se não é sua retomada na função da pulsação” (LACAN,
1964, p. 122), ou seja, pulsação do desejo. Quem sabe esse resto
possa ser o esterco do saber inconsciente, “o húmus humano”
(LACAN, 1973, p. 53). O que resta do olmo, da árvore, que possa
ser transmitido e que nos valha? E ainda, no segundo momento,
26 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017
Lacan deixa claro nesse “Discurso a EFP”, apesar das referên-
cias que em alguns pontos nos escapam em um diálogo um tan-
to obscuro, que se fazer merda, como atitude analítica, não é
se postar como estátua passiva do cocô alheio, do pássaro do
amor de transferência que nos pousa. Não é um lugar para ma-
soquismos. A cadência como dejeto não é por que assim o quer
o grande psicanalista da Rua do Olmo e nem mesmo Deus, com
sua divina providência. O lugar decaído é estrutural e fim da-
quele que trabalha para que, na peleja analítica, vença a divisão
do sujeito, a queda dos ideais e para que o fruto da castração, o
objeto a, resto a ser descartado, aquilo a que se presta o analista,
permita que Um não seja todo inteiro, mas que possa ser d’Um
entre outros, com sua diferença.
O analista, como Freud desconfiou, não se conforma à fantasia
do Outro; não é por demais pai, o é por de menos: o analista,
no desvelo de sua função é um resto, uma outra versão do pai
morto, fruto da lei da castração. O analista é sumo de restos pa-
rentais, objeto a, fruto da operação de ɸ sobre A(efeito de corte
que podemos também ler na fórmula da sexuação).
Temos aí, na operação analítica, dois momentos que atualizam a
castração no que esta possa ter ainda ficado no rochedo imagi-
nário. No primeiro momento, a queda da libra de carne da supo-
sição do saber – perda seca: “perda seca, que não salda nenhum
ganho, se não é sua retomada na função da pulsação” (LACAN,
1964, p. 122), ou seja, pulsação do desejo. Quem sabe esse resto
possa ser o esterco do saber inconsciente, “o húmus humano”
(LACAN, 1973, p. 53). O que resta do olmo, da árvore, que possa
ser transmitido e que nos valha? E ainda, no segundo momento,
26 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 19-31, 2017