Page 55 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
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Marisa G. Cunha Martins
escada as marcas cravadas no solo, chegando a um enorme Sobre a consistência.
círculo que lhe indicava uma saída, um lugarejo repleto de
labirintos, em que essa criança novamente se perdia. Mas 55
as cenas não cessavam. Dessa vez, aparece um pai, não o pai
castrador, gozador, detentor da Lei. Mas um pai que toma
uma mulher como causa para seu desejo, um pai “père-
vertidamente orientado, isto é, feito de uma mulher, objeto
pequeno a que causa seu desejo” (LACAN, RSI, aula de 21
de janeiro de 1975). Esse pai, como função de sintoma,
indica uma mulher que aponta a esse sujeito uma saída
pelo enquadramento de uma janela. Esse sujeito ainda
resiste, pois o salto era alto demais, portanto, ele corria
o risco de se machucar, até mesmo, se perder. Mas, ao se
aproximar da janela avista lá embaixo aquela grade. Aquela
grade que tanto o detinha, trazendo impedimentos, agora
se transformara em uma rede pronta a acolher aquele
sujeito para libertá-lo. Assim, ele saltou, saltou para o
infinito, sem perceber que lá embaixo, ao lado de um
automóvel, lhe esperavam seus filhos. Mas A Mulher disse-
lhe: podem embarcar cada um em um compartimento. O
sujeito pergunta: para onde vamos? Ela responde: o destino
não importa. Desse sonho, o sujeito deduz que o pai como
função de sintoma, como pai real, aponta um mais além,
um não-todo fálico. Um mais além, lugar indeterminado,
lugar ímpar, onde não comporta o duplo.
Dafunchio (2013), observa em Lacan que a an-
gústia como nominação do real equivale à identificação pri-
mária em Freud e faz função de enlaçamento. Assim sendo,
Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 47-58, 2016
escada as marcas cravadas no solo, chegando a um enorme Sobre a consistência.
círculo que lhe indicava uma saída, um lugarejo repleto de
labirintos, em que essa criança novamente se perdia. Mas 55
as cenas não cessavam. Dessa vez, aparece um pai, não o pai
castrador, gozador, detentor da Lei. Mas um pai que toma
uma mulher como causa para seu desejo, um pai “père-
vertidamente orientado, isto é, feito de uma mulher, objeto
pequeno a que causa seu desejo” (LACAN, RSI, aula de 21
de janeiro de 1975). Esse pai, como função de sintoma,
indica uma mulher que aponta a esse sujeito uma saída
pelo enquadramento de uma janela. Esse sujeito ainda
resiste, pois o salto era alto demais, portanto, ele corria
o risco de se machucar, até mesmo, se perder. Mas, ao se
aproximar da janela avista lá embaixo aquela grade. Aquela
grade que tanto o detinha, trazendo impedimentos, agora
se transformara em uma rede pronta a acolher aquele
sujeito para libertá-lo. Assim, ele saltou, saltou para o
infinito, sem perceber que lá embaixo, ao lado de um
automóvel, lhe esperavam seus filhos. Mas A Mulher disse-
lhe: podem embarcar cada um em um compartimento. O
sujeito pergunta: para onde vamos? Ela responde: o destino
não importa. Desse sonho, o sujeito deduz que o pai como
função de sintoma, como pai real, aponta um mais além,
um não-todo fálico. Um mais além, lugar indeterminado,
lugar ímpar, onde não comporta o duplo.
Dafunchio (2013), observa em Lacan que a an-
gústia como nominação do real equivale à identificação pri-
mária em Freud e faz função de enlaçamento. Assim sendo,
Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 47-58, 2016