Page 52 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
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Sobre a consistência.A função mais-um no cartel

Outro suposto saber a significação do sintoma. “Nessa
experiência onde o sujeito se endereça a alguém (e por certo
uma pessoa), como desconhecer que o estofo desse alguém
é um objeto, um cujo nome é “nada”?” (CABAS, 1994, p.
54). Essa é a lei de todo endereçamento do sujeito ao saber.
É por isso que Lacan não concorda quando se diz que o
mais-um não deve ser encarnado para que não se alimente
os fenômenos de grupo e a cristalização do líder. Cabas
entende o mais-um como sintoma da transmissão, um
sintoma que não se reduz, dentre outros, como é o caso da
psicanalise, a psicanalise como sintoma social.

Este cartel está acontecendo na formalização
dada em 1975: “um cartel parte de três mais uma pessoa,
coisa que, em princípio, faz quatro, e que dei como máximo
cinco, graças ao que, faz seis” (LACAN, aula de 15 de abril
de 1975). O cartel iniciou-se da seguinte forma: quatro
pessoas com certo saber sobre o discurso psicanalítico, mas
que ainda não haviam passado pela experiência do cartel, se
reuniram e escolheram mais-uma. A essa mais uma pessoa
foi confiado o tema do estudo: um saber sobre o cartel.
A princípio, o mais-um foi encarnado pelo grupo como o
sujeito suposto saber desse discurso. Esse sujeito, alguma
coisa sabia, sabia que não podia encarnar um mestre nem
mesmo um analista, nem se colocar na posição de um líder,
para não se promover a cola num Ideal. E também sabia
que dessa empreitada muito iria colher. E assim, o grupo
avançou. O mais-um apostava em si e nos membros do
grupo, e estes apostavam no mais-um.

52 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 47-58, 2016
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