Page 48 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
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Sobre a consistência.A função mais-um no cartel

cartel parte de uma determinada concepção da formação
do analista: a de transformar uma transferência dirigida
a alguém que sabe e a quem se pede que ensine numa
transferência de trabalho, quer dizer, num desejo de
produzir dirigido para um lugar em que essa produção
possa ser exposta; transformar o que poderia ser a busca
de uma verdade doutrinal num saber sobre a verdade e sua
relação com o impossível (JIMENES, 1994, p. 12)

Esse trabalho foi elaborado num ensejo de poder
dizer da experiência da função do mais-um em um cartel.
Para tanto, será feita uma breve descrição da formalização
do cartel em Lacan, situando desde o momento de sua
criação às modificações que foram acontecendo de acordo
com os avanços desenvolvidos por Lacan.

Em 21 de junho de 1964, Lacan funda a Escola
Francesa de Psicanálise e propõe que a adesão à Escola seja
“feita mediante apresentação a ela num grupo de trabalho”
(LACAN, 2003, p.238). Um pequeno grupo, diz ele, em
que “cada um deles se comporá de no mínimo três pessoas e
no máximo cinco, sendo quatro a justa medida. MAIS UM
encarregado da seleção, da discussão e do destino a ser
reservado ao trabalho de cada um” (LACAN, 2003, p.235).
A esse pequeno grupo constituído por escolha mútua Lacan
vai chamar de Cartel.

Segundo Jimenez (1994), nas Jornadas de 1975
da Escola Freudiana de Paris, os psicanalistas dessa Escola
se reuniram para uma discussão sobre o Cartel, pois, até
essa época, há quase onze anos da fundação da Escola,

48 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 47-58, 2016
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