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Pai como função realOutra dimensão do saber

outro pai, um pai contingente e incerto, ou seja, o pai
real. É nessa dialética que a problemática do Nome-do-
Pai surge como ponto crucial no ensino de Lacan, que
faz uma recapitulação necessária em Freud para que seja
possível chegar aos Nomes-do-Pai e ao pai como sinthoma.
Sua importância inclusive se dá na trama das questões em
torno do ternário simbólico, real e imaginário.

No começo de seu ensino, Lacan tinha necessidade de fa-
lar de certos conceitos para falar do Nome-do-Pai. Mas é
impressionante constatar que, a partir de 1960, constrói a
teoria do objeto a e da castração sem recorrer ao pai. Am-
bos são efeitos da linguagem, que, ao incidir no corpo do
falante, limita o gozo, sendo a castração, e não simples-
mente a ameaça, o que faz a disjunção entre desejo e gozo.
O interdito do pai ou ameaça de castração é um engodo; o
Édipo não serve para nada na análise, é secundário. “Logo
a castração não é um mito e sim um osso, ou melhor, um
real que nada deve ao pai bicho-papão” (SOLER, 2012,
p.163). O pai entra no final de “O Seminário 10: a angús-
tia” na sua relação com o desejo e a Lei. Em 1963, o tema
do pai é interrompido, mas não sem antes Lacan levantar
uma importante indagação.

Ao indicar o equilíbrio da Lei e do desejo, que se alcança
com o mito do pai morto e que traz a marca da formação do
desejo da criança, Lacan se pergunta por que isso provoca
neurose. Constata com Freud um paradoxo que se obtém
da função paterna como reguladora da pulsão: ela gera mal
-estar na cultura. Com o assassinato do pai da horda prime-

70 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 69-77, 2017
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