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Pai como função realOutra dimensão do saber

O que eu tinha a dizer sobre os Nomes-do-pai não visava
outra coisa, com efeito, senão pôr em questão a origem,
isto é, por qual privilégio o desejo de Freud tinha podido
encontrar, no campo da experiência que ele designa com
o inconsciente, a porta aberta (LACAN, 1964, p. 19).

De que origem se trata? Que porta franquearia a experiên-
cia do inconsciente?

Voltado para o campo freudiano, Lacan percebe que a prá-
tica analítica permanecia na dependência de certo “desejo
original” que tem sempre papel ambíguo, mas prevalecen-
te, na transmissão da psicanálise. Podemos pensar que esse
desejo original, ambíguo, a porta aberta na transmissão da
psicanálise, é o “desejo do Pai” ou aquilo a que esse desejo
se refere? Qual a estrutura desse desejo e qual a sua rela-
ção com o desejo do analista?

A partir do mito freudiano de Toten e Tabu, o pai intervém
como aquele cujo desejo invade, esmaga e se impõe a todos
os outros. Mas aí aparece a contradição, pois é por inter-
médio dele que a normatização do desejo nos caminhos da
lei se efetua. Mas será que é só isso? Antes havia um desejo
do pai sem lei, depois esse desejo passa a ser delimitado.
Podemos avaliar que há algo no desejo que nos chama a
atenção, a porta que Freud entrou no que eram as relações
do desejo com a linguagem e que indica um componente
primordial: a perda do objeto e um gozo perdido jamais
recuperado. Pela perda do objeto se enodam angústia, dor
e luto; se enlaçam inibição, sintoma e angústia, gozo fálico,
gozo do Outro, sentido e, ainda, real, simbólico e imaginá-
rio.

72 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 69-77, 2017
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