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Marisa G. Cunha Martins Desejo do analista e função paterna
Um pai que tem uma função muito específica: fazer en-
trar no Real algo que nele nunca havia entrado e que
implica não mais descobrir e experimentar, mas fazer a
escritura da hiância deixada pelo declínio dos nomes-
do-pai (RODRIGUES, 2007, p. 115).
E quanto ao analista, o que mais diz Lacan referente a esse
lugar não-todo? Em “Outros Escritos”, em seu texto “Te-
levisão”, Lacan (2003) para apresentar ao público uma no-
ção da figura do analista, ele toma a santidade, o ser santo,
em vez de aproximá-lo ao Deus que se encontra no real.
O Deus de que falou Lacan (2005) em “Nomes-do-Pai”,
ou seja, o Deus da religião, o Deus de Moisés. Diz que um
santo não faz caridade, ele faz descaridade. Ele banca o de-
jeto, o objeto a encarnado. Isso, para permitir ao sujeito do
inconsciente tomá-lo como causa de desejo. Nesse mesmo
livro, em “Nota italiana”, Lacan afirma: “[...] é do não-todo
que depende o analista. Não-todo ser falante pode autori-
zar-se a produzir um analista” (LACAN, 1973, p. 312). Não
é qualquer um que pode autorizar-se, somente o analista.
Em “O Seminário 23: o sinthoma”, no capítulo 9, Lacan, ao
trabalhar a energética e o real, lê as perguntas feitas a ele.
Dentre essas, ele destaca uma: se a psicanálise é um sin-
thoma. E responde ao que lhe foi colocado como questão:
“Penso que não se pode conceber o psicanalista de outra
forma senão como um sinthoma. Não é a psicanálise que é
um sinthoma, mas o psicanalista” (LACAN, 2007, p. 131).
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 59-68, 2017 65
Um pai que tem uma função muito específica: fazer en-
trar no Real algo que nele nunca havia entrado e que
implica não mais descobrir e experimentar, mas fazer a
escritura da hiância deixada pelo declínio dos nomes-
do-pai (RODRIGUES, 2007, p. 115).
E quanto ao analista, o que mais diz Lacan referente a esse
lugar não-todo? Em “Outros Escritos”, em seu texto “Te-
levisão”, Lacan (2003) para apresentar ao público uma no-
ção da figura do analista, ele toma a santidade, o ser santo,
em vez de aproximá-lo ao Deus que se encontra no real.
O Deus de que falou Lacan (2005) em “Nomes-do-Pai”,
ou seja, o Deus da religião, o Deus de Moisés. Diz que um
santo não faz caridade, ele faz descaridade. Ele banca o de-
jeto, o objeto a encarnado. Isso, para permitir ao sujeito do
inconsciente tomá-lo como causa de desejo. Nesse mesmo
livro, em “Nota italiana”, Lacan afirma: “[...] é do não-todo
que depende o analista. Não-todo ser falante pode autori-
zar-se a produzir um analista” (LACAN, 1973, p. 312). Não
é qualquer um que pode autorizar-se, somente o analista.
Em “O Seminário 23: o sinthoma”, no capítulo 9, Lacan, ao
trabalhar a energética e o real, lê as perguntas feitas a ele.
Dentre essas, ele destaca uma: se a psicanálise é um sin-
thoma. E responde ao que lhe foi colocado como questão:
“Penso que não se pode conceber o psicanalista de outra
forma senão como um sinthoma. Não é a psicanálise que é
um sinthoma, mas o psicanalista” (LACAN, 2007, p. 131).
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 59-68, 2017 65