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Ana Maria Fabrino Favato Pai como função real

va e a instauração do pai simbólico, a pacificação esperada
e a entrada do sujeito no discurso não supõem felicidade.
O real do pai pertencente ao pai gozador da horda, um pai
antes da linguagem, um pai em silêncio, não desaparece na
neurose, ou melhor, fica presente na pulsão e é aquilo que
faz o sujeito padecer.

Lacan então fala da relação do sujeito com o desejo do Ou-
tro e diz: “A neurose é inseparável, aos nossos olhos, de
uma fuga diante do desejo do pai, o qual o sujeito substitui
por sua demanda” (LACAN, 1963, p. 76). Da neurose ao
misticismo, um leque de fenômenos se abre quando o “de-
sejo do pai” não entra na economia do sujeito.

A reserva que se observa sobre os Nomes-do-Pai é, por-
tanto, em parte, constitutiva do próprio discurso analítico,
já que esse discurso indica a posição do analista e de seu
desejo. Dizer aos analistas sobre os Nomes-do-Pai poderia
servir a muitos, diz Lacan, inclusive poderia tocar alguns
em sua intimidade, especialmente os de tradição religiosa,
para não dizer os envolvidos por questões ligadas ao Nome-
do-Pai.

O ponto da tradição religiosa é assunto do qual o desejo do
próprio Freud encontrou resistências. Para Lacan, Freud
fez o que pôde para evitar sua própria história e, ao abordar
aquele cujo nome é impronunciável na tradição judaica, re-
correu aos mitos, deixando tudo muito limpo, muito assép-
tico. Lacan, não falando do Nome-do-Pai, pôde então falar
de outra coisa que Freud avistou:

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 69-77, 2017 71
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