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Ana Maria Fabrino Favato Pai como função real
A queda do objeto é primitiva e as várias formas que assume
(seio, fezes, pênis, olhar e voz) se relacionam com o modo
sob o qual o desejo do Outro é apreendido pelo sujeito. Das
cinco vestimentas do objeto, Lacan destaca a última, a voz,
como a porta para o desejo do Outro sob a forma do a. A
voz como a do Outro é, em suma, a única testemunha de
que o lugar do Outro não é apenas o lugar da imagem, da
miragem, por isso a voz deve ser considerada um objeto
essencial. A voz indica o significante, mas indica também
aquilo que o significante não recobre. Indica o furo que o
simbólico faz no real.
É assim que depois do pai primordial, surge o pai da voz,
cuja função é a do nome próprio. Mas, para além do nome
e da voz, o mito freudiano nos dá as balizas para pensar o
gozo, o desejo e o objeto. O nome é uma marca já aberta à
leitura. Na manifestação de seu desejo, o pai não sabe a que
a esse desejo se refere, pois está sempre referido ao dese-
jo do Outro. É o desconhecimento do a que deixa a porta
aberta. Aí está a possibilidade de a função paterna funcio-
nar na sua abrangência para além do simbólico e apontar
para o Real.
Ao contrário do que enuncia o mito religioso, o pai não
é causa sui, mas é o sujeito que foi longe o bastante na
realização de seu desejo para reintegrá-lo em sua cau-
sa, seja ela qual for, para reintegrá-lo no que há de irre-
dutível na função do a (LACAN, 1962-1963, p. 366).
Lacan se pergunta se o Pai do Simbólico, o que dá nome às
coisas, basta para o sujeito. Parece que não. O pai morto,
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 69-77, 2017 73
A queda do objeto é primitiva e as várias formas que assume
(seio, fezes, pênis, olhar e voz) se relacionam com o modo
sob o qual o desejo do Outro é apreendido pelo sujeito. Das
cinco vestimentas do objeto, Lacan destaca a última, a voz,
como a porta para o desejo do Outro sob a forma do a. A
voz como a do Outro é, em suma, a única testemunha de
que o lugar do Outro não é apenas o lugar da imagem, da
miragem, por isso a voz deve ser considerada um objeto
essencial. A voz indica o significante, mas indica também
aquilo que o significante não recobre. Indica o furo que o
simbólico faz no real.
É assim que depois do pai primordial, surge o pai da voz,
cuja função é a do nome próprio. Mas, para além do nome
e da voz, o mito freudiano nos dá as balizas para pensar o
gozo, o desejo e o objeto. O nome é uma marca já aberta à
leitura. Na manifestação de seu desejo, o pai não sabe a que
a esse desejo se refere, pois está sempre referido ao dese-
jo do Outro. É o desconhecimento do a que deixa a porta
aberta. Aí está a possibilidade de a função paterna funcio-
nar na sua abrangência para além do simbólico e apontar
para o Real.
Ao contrário do que enuncia o mito religioso, o pai não
é causa sui, mas é o sujeito que foi longe o bastante na
realização de seu desejo para reintegrá-lo em sua cau-
sa, seja ela qual for, para reintegrá-lo no que há de irre-
dutível na função do a (LACAN, 1962-1963, p. 366).
Lacan se pergunta se o Pai do Simbólico, o que dá nome às
coisas, basta para o sujeito. Parece que não. O pai morto,
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 69-77, 2017 73