Page 38 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
P. 38
A lógica do pressentimento
“ existe saber no real”
(Lacan, 2003, p. 312.)
Sobre a consistência. Insisto em escrever algo daquilo que insiste em
não se inscrever. Não por acaso, mas pelo caso, que insisto
nisto: há saber no real. E um pressentimento de uma
analisante em crise nos retorna ao rigor neste saber. Alguns
poderiam questionar: e por acaso o real sabe de alguma
coisa? O real não precisa saber, a ele não falta nada. Nele,
real, há um saber, de elevada estima ao psicanalista, que,
por princípio ético, precisa o ler. É bem isso, digo, saber ler
o saber no real, que pode se tornar uma saída em tempos
de crise. Toda crise é econômica, seja ela do estado ou do
sujeito. Um desajuste econômico é exatamente aquilo que
escutamos de um sujeito em crise. Um não enodamento
da castração, o abafamento do saber do real, a recusa da
Matemática, não é esse o problema de nossos analisantes e
de nossos governantes? Estes últimos talvez ainda piores,
por uma pegada perversa, do famoso ‘eu sei bem, mas
mesmo assim...’.
Quando uma mulher, em análise, lhe disser que
está tendo um pressentimento, é importante acreditar nisto!
Nada místico, nada espiritual, algo de real, basta escutá-lo
como tal e assimilar a sua lógica de funcionamento. Neste
rumo, será que o que Freud recomenda como técnica da
‘atenção flutuante’ é uma escuta exclusiva deste saber
no real? Isto é, a escuta seletiva daquilo que, neste caso
em questão, aparece sob o nome de “pressentimento”?
38 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 37-45, 2016
“ existe saber no real”
(Lacan, 2003, p. 312.)
Sobre a consistência. Insisto em escrever algo daquilo que insiste em
não se inscrever. Não por acaso, mas pelo caso, que insisto
nisto: há saber no real. E um pressentimento de uma
analisante em crise nos retorna ao rigor neste saber. Alguns
poderiam questionar: e por acaso o real sabe de alguma
coisa? O real não precisa saber, a ele não falta nada. Nele,
real, há um saber, de elevada estima ao psicanalista, que,
por princípio ético, precisa o ler. É bem isso, digo, saber ler
o saber no real, que pode se tornar uma saída em tempos
de crise. Toda crise é econômica, seja ela do estado ou do
sujeito. Um desajuste econômico é exatamente aquilo que
escutamos de um sujeito em crise. Um não enodamento
da castração, o abafamento do saber do real, a recusa da
Matemática, não é esse o problema de nossos analisantes e
de nossos governantes? Estes últimos talvez ainda piores,
por uma pegada perversa, do famoso ‘eu sei bem, mas
mesmo assim...’.
Quando uma mulher, em análise, lhe disser que
está tendo um pressentimento, é importante acreditar nisto!
Nada místico, nada espiritual, algo de real, basta escutá-lo
como tal e assimilar a sua lógica de funcionamento. Neste
rumo, será que o que Freud recomenda como técnica da
‘atenção flutuante’ é uma escuta exclusiva deste saber
no real? Isto é, a escuta seletiva daquilo que, neste caso
em questão, aparece sob o nome de “pressentimento”?
38 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 37-45, 2016