Page 41 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
P. 41
Thales Siqueira de Carvalho

enamoramento, não do parceiro idealizado, mas se cercar Sobre a consistência.
do enamoramento do seu fantasma. O esvaziamento da
idealização é uma ressonância deste passo de cerco ao gozo. 41
Esta pegada clínica já nos foi apontada por Lacan ao dizer
do cuidado com o enamoramento no fantasma, no qual o
sujeito cai como “la dupe” (LACAN, 1973-1974, lição 15),
ou seja, como “a presa” do fantasma. Posição que distancia
o sujeito de seu encontro com o saber do real. Retomo uma
frase do meu trabalho do ano passado publicado na Revista
Transfinitos n.º14 do Aleph Escola de Psicanálise: “O
imperativo de amar e se fazer amada, é o que muitas vezes
impede uma mulher de desprender-se do fantasma para
colar no real da estrutura” (CARVALHO, 2015, p. 218).

O saber do real reaparece na analisante, com
outras palavras: “Quando me agarro nos fatos e menos na
imaginação, eu fico melhor. Algo me diz que é para eu não
ir e dar um tempo para ver se é isso mesmo”. Pois bem,
agarrar-se nos fatos para se antecipar, mesmo que seja para
concluir logo que é preciso dar um tempo. Isso nos remete
ao que Lacan disse sobre a ‘função da pressa na lógica’,
afirmando que “é na urgência do movimento lógico que o
sujeito precipita simultaneamente seu juízo e sua saída, no
sentido etimológico do termo ‘de cabeça’” (LACAN, 1998,
p. 206).

Não se trata de precipitar-se em erro, mas de
se antecipar sem hesitar, pois isso é o que pode “cercar”.
Um pré-sentimento que vem do real é o que pode barrar
o gozo, como uma conclusão lógica antecipada. O

Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 37-45, 2016
   36   37   38   39   40   41   42   43   44   45   46