Page 39 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
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Thales Siqueira de Carvalho

Uma escuta da enunciação e não um raciocínio do que Sobre a consistência.
se escuta. Não que a escuta seja irracional, mas o que
raciocina aqui é de ‘uma outra cena’. Ao nos fiarmos neste 39
pressentimento que vem do real estaremos mais próximos
de ‘des-ser’ da razão e irmos ao encontro do saber que há
na estrutura. Os termos ‘raciocínio’ e ‘razão’ nos remetem
a rationem, que em latim significa cálculo, medida, conta.
E o que nos interessa enquanto psicanalistas é o cálculo
pelo afeto em jogo, uma conta que leva em conta a pulsão,
ou seja, uma razão, pressentida sobre, inclusive, o que há
do ponto de vista econômico. Na Matemática, ‘razão’ é o
resultado de uma divisão. Termo propício para o trabalho
aqui em questão, pois escrevo de uma divisão, a razão de
um sujeito entre o seu fantasma e o real, e que, pela via do
pressentimento encontra uma saída de conclusão.

A analisante chega aos meus cuidados, alguns
dias depois de sua reação de fúria e agressividade contra
o namorado, ao tomar conhecimento de uma traição
que já vinha se arrastando ao longo do namoro. Falava
da dificuldade de se desligar desta pessoa com a qual se
relacionou e se dizia culpada pela reação agressiva que ela
teve diante da constatação dos fatos. Aqui me lembro de
Lacan, na última lição do seminário da Ética, ao nos propor
que “a única coisa da qual se possa ser culpado, pelo menos
na perspectiva analítica, é de ter cedido de seu desejo”
(LACAN, 2008, p.373).

Confrontada com a divisão, ao longo das sessões,
a analisante chegou a uma razão: se deu conta da sua

Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 37-45, 2016
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