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Ana Maria Fabrino Favatoangústia, nominação real

Nem tudo aparece na imagem especular, o que
não se projeta nem se investe no Outro e fica libidinizado
no corpo, surge na imagem virtual como falta, pois parte
da libido fica retida no próprio corpo como narcísico
(LACAN, 2005, p. 55). Todavia, se nesse lugar da falta
(-φ) que sustenta a imagem corporal do sujeito desejante o
objeto a se apresenta, há um verdadeiro desmoronamento
da imagem corporal com a perda dos pontos de referência e
de identidade. Nessa hora a angústia real invade um corpo
que se desfalece, que entra em efusão, perde o poder, perde
a força. Quando alguma coisa aparece no lugar da falta,
surge a angústia. É a inquietante estranheza do unheimlich
freudiano.

A angústia não é sem objeto, diz Lacan, e aqui a
referência é o objeto a. A questão levantada por Freud de
que a angústia é uma reação à perda do objeto não contradiz
a assertiva de Lacan, pois Freud fala da angústia pela perda
do objeto amado, o objeto de quem a criança depende e
para o qual a criança ou o sujeito é inerme (FREUD, v. XX,
1969, p. 161). O objeto a pertence ao campo dos objetos
que não são partilhados e quando eles entram na vida
amorosa, têm a particularidade de causar perturbações.
São objetos anteriores à constituição do status do objeto
comum, comunicável, socializado (LACAN, 2005, p. 103).
Por outro lado, não existe escolha de objeto na vida amorosa
a não ser que o objeto a tenha sido previamente extraído.

Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 11-21, 2015 13
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