Page 12 - revista_ato (1)
P. 12
angústia, nominação realAngústia e sexuação

Lacan abre o Seminário 10 dizendo que o tema
da angústia marca importante ponto de encontro para tudo
que fez parte de seu ensino até o momento. Focaliza um
campo onde vai indicar que com ele, nós analistas, assumi-
remos ainda melhor nosso lugar na intensão e extensão. A
angústia nos põe à prova, mas sua abordagem não passa por
nenhuma regulação. Se ela não sufoca os analistas, deveria
fazê-lo, adverte Lacan, pois ela permite nos orientarmos no
momento de seu aparecimento; sugere-nos a relação essen-
cial com o desejo do Outro e nisso vemos os desdobramen-
tos do aparecimento da angústia na fantasia, na transferên-
cia, na Escola, no encontro amoroso, na sexuação.

O uso que Lacan faz da fábula dos três irmãos
com a máscara do louva-a-deus mostra como a experiência
da angústia concerne diretamente ao eu e ao desejo do Ou-
tro. Por não saber que máscara de animal está usando, por
não se ver no globo ocular do inseto, por não saber como
o Outro lhe quer, o feiticeiro, diante de um louva-a-deus
gigante, fica intranquilo, pois corre o risco de ser devorado
caso sua identidade se revele à sua parceira perigosa (LA-
CAN, 2005, p. 14). Sendo reconhecido aí, o feiticeiro será
apenas objeto para o Outro e isso é difícil de suportar.

Pela operação de divisão, a única prova e garantia
da alteridade do Outro é o que sobra como resto irracional,
o a. Ao Outro não se tem acesso, não o atinjo, como não
atinjo o inconsciente. O que me resta é gozar com o objeto a
na fantasia e sofrer as inibições, os sintomas e as angústias.

12 Revista da Ato – Escola de psicanálise, Belo Horizonte, Angústia, Ano I n. 0, pp. 11-21, 2015
   7   8   9   10   11   12   13   14   15   16   17