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Viviane Gambogi Cardoso

Alma atormentada pela falta de respostas, representada nos “... porque não é isso!” Nas dobras do Barroco
meandros e labirintos. Revelação e desamparo. A fé cristã
se revela nos corpos nus, que mostram e escondem seus 91
desejos.

A consolidação das monarquias absolutistas foi outro ele-
mento de importância para a formação da estética barroca.
Por meio da arte, procuraram consagrar os valores que de-
fendiam. O poder e a grandeza dos Estados centralizados
eram exibidos nas construções monumentais dos palácios
reais. Por outro lado, nessa mesma época, a burguesia as-
cendente passou a se educar e abrir um novo mercado con-
sumidor de arte. Tendo preferências estéticas distintas da
realeza, foi importante para a formação de certas escolas
barrocas mais ligadas ao realismo.

Por fim, outra força ativa foi um renovado interesse no
mundo natural e uma gradativa ampliação dos horizontes
culturais através das grandes navegações e do desenvolvi-
mento da ciência, que trouxeram uma consciência da in-
significância do homem em meio à vastidão do universo e
da insuspeitada complexidade da natureza.

O poder e o prestígio da Igreja começavam a declinar dian-
te do crescente racionalismo e pragmatismo promovidos
pela ciência e pela nova realidade política, desafiando anti-
gas crenças enraizadas.

Lacan diz que “A Contrarreforma era voltar às origens,
e o Barroco é a ostentação disso, é a regulação da alma
pela escopia corporal” (LACAN, 2010, p. 236). A escopia

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 87-97, 2017
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