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Viviane Gambogi Cardoso
Deus” (LACAN, 2010, p. 227). Cristo pagou o preço por “... porque não é isso!” Nas dobras do Barroco
isso, pagou com o próprio corpo, mutilado, crucificado.
Lacan lembra-nos que Freud nos deu uma interpretação
necessária, “que não cessa de se escrever”, do assassinato
do filho, como fundador da religião da graça – um modo de
denegação – o que constitui uma forma possível da confis-
são da verdade.
Dos efeitos que se desenrolaram do cristianismo, especial-
mente sobre a arte, encontra-se o barroquismo, do qual
Lacan diz estar revestido. O Barroco mostra a história de
um homem, Cristo, que é contada nos Evangelhos como
verdade inquestionável. O discurso analítico aponta para a
impossibilidade de apreender toda a verdade “na medida
em que o inconsciente não é passível de absoluto desvela-
mento, está sempre por dizer” (OLIVEIRA, 2006, p. 292).
A própria estrutura da verdade é um semi-dizer, não se re-
vela toda.
A eclosão da Reforma Protestante pôs um fim à unidade do
cristianismo e à primazia do papado romano, mas logo em
seguida a Igreja Católica reorganizou suas forças lançando
a Contrarreforma, numa tentativa de refrear a evasão de
fiéis para o lado protestante e a perda de influência política
da Igreja. O resultado disso foi um grande conflito espiri-
tual e estético, expresso pela arte ambivalente, polimorfa e
agitada do período. A orientação da Igreja era de se produ-
zir uma arte que pudesse cooptar a massa do povo, apelan-
do para o sensacionalismo e uma emocionalidade intensa.
Eram utilizados recursos ilusionísticos e dramáticos, de
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 87-97, 2017 89
Deus” (LACAN, 2010, p. 227). Cristo pagou o preço por “... porque não é isso!” Nas dobras do Barroco
isso, pagou com o próprio corpo, mutilado, crucificado.
Lacan lembra-nos que Freud nos deu uma interpretação
necessária, “que não cessa de se escrever”, do assassinato
do filho, como fundador da religião da graça – um modo de
denegação – o que constitui uma forma possível da confis-
são da verdade.
Dos efeitos que se desenrolaram do cristianismo, especial-
mente sobre a arte, encontra-se o barroquismo, do qual
Lacan diz estar revestido. O Barroco mostra a história de
um homem, Cristo, que é contada nos Evangelhos como
verdade inquestionável. O discurso analítico aponta para a
impossibilidade de apreender toda a verdade “na medida
em que o inconsciente não é passível de absoluto desvela-
mento, está sempre por dizer” (OLIVEIRA, 2006, p. 292).
A própria estrutura da verdade é um semi-dizer, não se re-
vela toda.
A eclosão da Reforma Protestante pôs um fim à unidade do
cristianismo e à primazia do papado romano, mas logo em
seguida a Igreja Católica reorganizou suas forças lançando
a Contrarreforma, numa tentativa de refrear a evasão de
fiéis para o lado protestante e a perda de influência política
da Igreja. O resultado disso foi um grande conflito espiri-
tual e estético, expresso pela arte ambivalente, polimorfa e
agitada do período. A orientação da Igreja era de se produ-
zir uma arte que pudesse cooptar a massa do povo, apelan-
do para o sensacionalismo e uma emocionalidade intensa.
Eram utilizados recursos ilusionísticos e dramáticos, de
Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 87-97, 2017 89