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“... porque não é isso!” Nas dobras do BarrocoOutra dimensão do saber

primeira medida para se libertar das restrições do recal-
que, e, com isso, da compulsão do princípio de prazer.

Freud conclui que o reconhecimento do inconsciente por
parte do eu se exprime numa fórmula negativa. Ele diz não
haver “prova mais contundente de que fomos bem suce-
didos em nosso esforço de revelar o inconsciente, do que
o momento em que o paciente reage a ele com as palavras
‘Não pensei isso’ ou ‘Não pensei (sequer) nisso’” (FREUD,
v. XIX, 1976, p. 300).

A Behajung “não é outra coisa senão a condição primordial
para que, do real, alguma coisa venha a se oferecer à reve-
lação do ser, ou, para empregar a linguagem de Heidegger,
seja deixado-ser” (LACAN, 1998, p. 389).

Segundo Lacan, a denegação e o reaparecimento na ordem
puramente intelectual do que não está integrado pelo su-
jeito, protege o neurótico da invasão que sofre o psicótico
pelo material excluído, que retorna sobre o sujeito na for-
ma de delírios e alucinações.

Lacan sustenta que a importância da negação é exibir o
limite da simbolização, apontando o inconsciente. Sua as-
sertiva passa a ser a do inconsciente como um saber ci-
frado, impermeável à interpretação, pois se situaria numa
exterioridade em relação ao discurso.

A partir desse inconsciente, nos remetemos às obras do
Barroco, que abrem uma janela para o real , em suas dobras,
nos corpos exibidos, nos contrários, nas anamorfoses, que

94 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 87-97, 2017
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