Page 58 - revista_ato_topologia_e_desejo_do_analista_ano3_n3
P. 58
O sentido do sintomaOutra dimensão do saber

Da formulação de um sujeito suposto ao inconsciente,
Lacan extrai o ser falante, o parlêtre, feito de um saber
que goza absolutamente só. Um saber que não quer sa-
ber nada do que goza para, assim, continuar... gozan-
do... Nesse ponto preciso, Lacan pode dizer que não há
o mais mínimo rastro de um desejo de saber (VIDAL,
2011, p. 476).

Não há gozo sem corpo. Em suma, pode-se dizer que só
há gozo do corpo e que o corpo é feito para gozar, mesmo
que o sujeito não queira saber nada disso. Mas, se o gozo
é sempre sentido pelo corpo e permanece indizível, só po-
dendo ser dito nas entrelinhas, é pela fala e pelo discurso
que ele será delineado. O significante detém o gozo.

É na leitura do texto de James Joyce que Lacan irá encontrar
elementos para compreender o inconsciente como falasser
e atestar o gozo próprio do sintoma, que é um gozo opaco,
por abolir o sujeito, por excluir o sentido. Lacan afirma que
“o sentido do sintoma não é aquele que é alimentado para
sua proliferação ou extinção, o sentido do sintoma é o real”
(LACAN, 1974, p. 186).

O inconsciente é estruturado como uma linguagem, por-
tanto tem furos que aparecem como formações do incons-
ciente. Para não se deparar com esses furos, com o real, o
sujeito goza. Mas é justamente a partir desses pontos de
furo que o analista opera: com o fantasma, com os restos,
com os traços, com os equívocos que aparecem na super-
fície, na linguagem, em lalangue. O analista tem que se
servir da estrutura. Servir-se da estrutura é lidar com esse
real. Não é com a interpretação de sentido que o analista

56 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 53-58, 2017
   53   54   55   56   57   58   59   60   61   62   63