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Marilia Pires Botelho

mo que ele escreve numa só palavra para designar a língua
dita materna.

Trabalha ainda a questão do saber tal como é tomado pela
ciência, interrogando, inclusive, onde esse saber se encon-
tra. Afirma que ele está no inconsciente, e é um saber im-
pregnado pelos efeitos de lalangue, que são os afetos.

O inconsciente é um saber, um saber-fazer com lalangue.
Ele é feito de lalangue, e o sujeito é por ela afetado. A ex-
periência do inconsciente nos mostrou que lalangue serve
para outras coisas, que não a comunicação.

A linguagem é o que se tenta saber com relação à lalangue.
De início, ela – a linguagem – não existe.

O que há são restos de palavras ouvidas, conotadas pelo O sentido do sintoma
gozo da língua materna. É o material de “alíngua”, o sig-
nificante gozoso que não comunica nada. Um enxame
zumbindo que se satisfaz em si mesmo (VIDAL, 2011,
p. 476).

Lacan já havia nos proposto a tese de que o inconsciente
é estruturado como uma linguagem. Tese necessária para
que ele formule outra maneira de dizer do inconsciente
afetado por lalangue.

O homem tem um corpo, isto é, ele fala com seu corpo e
somente ele – o homem – goza a partir de suas necessida-
des mais fundamentais. O ser falando, goza. Ele é falasser
por natureza. Daí a expressão de Lacan – falasser – parlêtre
– que, segundo ele, virá substituir o ICS de Freud.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 53-58, 2017 55
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