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O sentido do sintomaOutra dimensão do saber

tanto mais motivos teremos para esperar que seremos ca-
pazes de estabelecer esta conexão.

Freud vai do sentido do sintoma ao gozo nele contido ao
observar

[...] uma satisfação experimentada como sofrimento,
uma satisfação que não se confunde com o prazer, posto
que desviada. O que era para dar prazer transforma-se
em queixa e nesse sentido temos dificuldade em reco-
nhecer num sintoma a satisfação libidinal (FAVATO,
2010, p. 2).

Num dos casos apresentados, sempre que Freud perguntava
à paciente: “Porque faz isso? Qual o sentido disto?”. Ela res-
pondia: “Não sei” (FREUD, 1916-1917, p. 310).

“... eu não quero saber nada disso...” (LACAN, 1972-1973,
p.11). Com essa frase, Lacan introduz o “Seminário Enco-
re” para dizer do inconsciente e da divisão do sujeito frente
ao saber e ao gozo. Ele afirma que o exercício do saber re-
presenta um gozo, e este é o eixo central desse seminário.

De que maneira podemos entender essa articulação de La-
can? Na última lição desse mesmo seminário, ele parte da
tese de que geralmente é enunciado que a linguagem serve
para a comunicação. Mas, na verdade, a linguagem é o es-
forço feito para dar conta de algo que não tem nada a ver
com a comunicação e que Lacan chama de lalangue2, ter-

2 O termo lalangue, neologismo criado por Lacan, foi traduzido para
o português como alíngua, ou lalíngua. Um grande número de seus
comentadores opta por manter a palavra lalangue, tal como Lacan a forjou,
por considerar esse neologismo intraduzível.

54 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 53-58, 2017
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