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Rosana Scarponi Pinto

analisante-analista. Relendo o que foi abordado até aqui, O gozo e a função do analista
percebe-se que essa questão já foi elucidada de várias for-
mas, mas seria importante ressaltar alguns pontos. O ana-
lista estaria deslocado de sua função se estivesse identifica-
do com as questões do paciente, sendo seu i de a (esquema
R de Lacan de 1955), ou ficando na posição de mestre, de
ideal, de fazer o bem ou curar. Assim respondendo, o ana-
lista não estaria sustentando uma perda do sujeito entre S1
e S2, perda essa que vai gerar a causa. Ele estaria presen-
te com o seu narcisismo, sustentado pelo gozo fálico, uti-
lizando da transferência do paciente em benefício de sua
demanda de amor ou de seu gozo singular. Dessa forma, ao
invés do analista ser causa de desejo seria causa de repeti-
ção, de resistência e de gozo.

Reiterando esses pontos, no texto “Função e Campo da Fala
e da Linguagem em Psicanálise”, Lacan (1953) diz que há
uma tentação grande para o analista de abandonar o fun-
damento da fala quando está lidando com o inefável. Essas
tentações seriam: a pedagogia materna, a ajuda samaritana,
a dominação dialética e também o abandono da própria lin-
guagem em benefício de linguagens já instituídas.

Trabalhar com o sintoma como metáfora, na produção
de sentido-significações, é trabalhar com recuperação de
gozo; e o efeito não é o mesmo quando se trabalha com
o sintoma como real, extraindo lalangue, que gera perda.
Essa última forma de manejo do sintoma nos remete ao
lado não-todo da fórmula da sexuação e alude a uma ar-
ticulação entre a posição do analista e a posição feminina,

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 79-86, 2017 83
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