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O gozo e a função do analistaOutra dimensão do saber

fálico? O que o semblante tem a ver com a posição do ana-
lista?

Para efeito de argumentação desses questionamentos, re-
tomamos a constituição do sujeito.

A incidência desejante do outro sobre o sujeito produz
marcas, gozo, fazendo com que o corpo saia do natural e
abra possibilidades. Nessas marcas e nos orifícios, a pul-
são retorna e estabelece pontos de fixação, buscando um
re-encontro que nunca existiu. O significante vai estabe-
lecer uma separação entre esse gozo sem lei, que está na
coisa-corpo, fora da linguagem e, que nos remete ao mito
de Totem e Tabu, para um outro tipo de gozo, que é parcial.

No gozo fálico, há uma perda fundamental, porque a lei se
faz presente como corte; o pai é castrado. Há uma orde-
nação do gozo sexual pelo significante. Serão possíveis, a
partir daí, pequenas fatias de gozo, pois o gozo fálico não
permite gozar da totalidade do corpo.

Mas, mesmo que haja uma não relação entre o gozo do cor-
po e o gozo fálico, existe um resto inassimilável e irredu-
tível, objeto a, onde se conecta o gozo de RSI. Isso porque
há buraco no simbólico, há um significante que falta e, por
isso, há repetição.

O gozo fálico cifra o gozo do corpo, mas não o extingue. O
sujeito, em falta dessa parte de gozo que foi simbolizada e
perdida, busca resgatar nos objetos substitutos fantasmá-
ticos o a-mais de satisfação, um bônus de gozo, um retorno

80 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 79-86, 2017
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