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O gozo e a função do analistaOutra dimensão do saber
tórica, com a redução máxima do significante. Aí, onde não
há significante que represente o sujeito, aparece um que
vai operar como o pai real, como causa, um desvio do mo-
delo além das identificações e dos objetos fantasmáticos.
Essa é uma aposta na operação de separação, de ir além
da seriação regular e automática da cadeia significante que
constituiu o sujeito. É uma tentativa de desarticulação da
realidade fantasmática em que o sujeito está identificado
com seu gozo, para, a partir daí, abrir a possibilidade de
sustentar o desejo como causa.
Para essa operação acontecer, é preciso que o analista faça
semblante de objeto. Se o a é o objeto que cai, traduzindo
uma perda, o analista porta esse semblante suporte do real,
ou insuporte, como diz Lacan (1974), em “A Terceira”, já
que é impossível ou insuportável encarnar o próprio real.
Traduz uma presença como corpo, mas como semblante
de a, sem consistência, o que denota ao mesmo tempo uma
ausência e um vazio de subjetividade. Freud (1926) aponta
para essa posição quando diz que o analista deve ser opaco
aos seus pacientes e não dirigir reparo para algo específico
da associação, mantendo a atenção suspensa em face de
tudo o que escuta e abandonando-se à sua própria “me-
mória inconsciente”. Do contrário, poderá correr o risco
de fixar-se em algum material por conta de suas próprias
inclinações, expectativas ou ambições terapêuticas.
Mas, mesmo que o gozo seja drenado nesse processo, ele
não termina com o final de análise, ele faz parte da consti-
tuição do sujeito e é um fato de estrutura. Então, a questão
que se apresenta é como pensar o gozo no ponto da virada
82 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 79-86, 2017
tórica, com a redução máxima do significante. Aí, onde não
há significante que represente o sujeito, aparece um que
vai operar como o pai real, como causa, um desvio do mo-
delo além das identificações e dos objetos fantasmáticos.
Essa é uma aposta na operação de separação, de ir além
da seriação regular e automática da cadeia significante que
constituiu o sujeito. É uma tentativa de desarticulação da
realidade fantasmática em que o sujeito está identificado
com seu gozo, para, a partir daí, abrir a possibilidade de
sustentar o desejo como causa.
Para essa operação acontecer, é preciso que o analista faça
semblante de objeto. Se o a é o objeto que cai, traduzindo
uma perda, o analista porta esse semblante suporte do real,
ou insuporte, como diz Lacan (1974), em “A Terceira”, já
que é impossível ou insuportável encarnar o próprio real.
Traduz uma presença como corpo, mas como semblante
de a, sem consistência, o que denota ao mesmo tempo uma
ausência e um vazio de subjetividade. Freud (1926) aponta
para essa posição quando diz que o analista deve ser opaco
aos seus pacientes e não dirigir reparo para algo específico
da associação, mantendo a atenção suspensa em face de
tudo o que escuta e abandonando-se à sua própria “me-
mória inconsciente”. Do contrário, poderá correr o risco
de fixar-se em algum material por conta de suas próprias
inclinações, expectativas ou ambições terapêuticas.
Mas, mesmo que o gozo seja drenado nesse processo, ele
não termina com o final de análise, ele faz parte da consti-
tuição do sujeito e é um fato de estrutura. Então, a questão
que se apresenta é como pensar o gozo no ponto da virada
82 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 79-86, 2017