Page 63 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
P. 63
Maria Luiza BassiSobre a consistência.

e quer saber a razão de estar impedida de andar: seria uma
doença grave? Voltaria a acontecer?

Ainda, seguindo esse mesmo quadro, Lacan
(1962-63), para dizer do acting out e da passagem ao
ato, trabalha dois casos de Freud : “Dora” e “A jovem
homossexual”, nos quais apresenta uma lógica que leva o
sujeito do acting out à passagem ao ato.

No caso Dora, Lacan qualificou como acting
out todo o seu comportamento na casa dos K, como se ela
estivesse numa cena. O acting out “é essencialmente, alguma
coisa que se mostra na conduta do sujeito, sua orientação
para o Outro deve ser destacada” (LACAN, 1962-63, p.
137), se caracteriza por colocar claramente a dimensão do a
da pulsão na cena. No caso da jovem homossexual, o acting
out está no tempo entre o cortejo à dama até o momento em
que ela passeia acompanhada da mesma, diante da janela
do pai. É aos olhos de todos que a conduta dessa jovem é
exibida.

Na cena do lago, quando o Sr. K diz à Dora
que a sua mulher não valia nada para ele, ela – Dora – cai
de cena . Perde a possibilidade de identificação com ele
e sua questão sobre a feminilidade fica em aberto. Dora
passa ao ato e dá uma bofetada no Sr. K. No caso da jovem
homossexual, quando ela passeava diante da janela do pai e
ele lhe dirige um olhar fulminante, a dama rompe a relação
entre elas. Nesse momento, a jovem se atira na linha do
trem. A passagem ao ato implica a queda da cena.

Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 59-65, 2016 63
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