Page 62 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
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Sobre a consistência.Inibição, sintoma e angústia: enodamento borromeano

real que diz de um não saber e possibilita o início de uma
elaboração de sua posição subjetiva.

A partir do momento em que algo é revelado à
mãe, algo estranho (unheimlich) aparece. A fantasia que
sustentava a posição de sujeito vacila, a menina despenca, a
angústia toma o corpo que fica imobilizado, impedido. “...
a inibição, como o próprio Freud articula, é sempre negócio
de corpo ou de função” (LACAN, 1975, p.6).

Logo no início do texto “Inibição, Sintoma e
Ansiedade”, Freud (1926) assinala que o mais característico
da inibição é evitar, poupar o desencadeamento da angústia
a partir do impedimento de uma função. A inibição parte
do eu e procura evitar um conflito com o Supereu e com o
Isso, evitando o recalcamento e freando o movimento do
simbólico.

Lacan (1962-63) nos apresenta no seminário 10
um quadro em que a inibição é o ponto de partida, ponto
zero de angústia numa tentativa de evitar toda e qualquer
dificuldade e movimento. Esse quadro nos traz uma
dimensão clínica muito importante. A inibição localizada
no ponto zero resguarda o sujeito de qualquer angústia.
O impedimento é da ordem da inibição, mas leva consigo
certa dimensão sintomática. O impedimento vem quando
a inibição se sintomatiza. O sujeito se faz presente aí e
percebe que esse impedimento pode dificultar a sua vida:
o sujeito ainda limitado em seu movimento começa a se
angustiar, apresentando certo embaraço. No decorrer das
sessões, a menina passa a questionar o diagnóstico recebido

62 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 59-65, 2016
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