Page 39 - revista_ato_topologia_e_desejo_do_analista_ano3_n3
P. 39
Rosângela Gazzi Macedo As formações do inconsciente e o desejo do analista

Podemos situar a angústia como um modo radical, sob o
qual é mantida a relação com o desejo, uma relação que
é de sustentação do desejo, pois o objeto falta. É a partir
disso que Lacan nos diz que o desejo é o remédio para a
angústia. O desejo, como ponto central da direção da cura,
faz com que o analista busque meios de operar com ele na
clínica.

No início do tratamento, o sujeito se dirige ao analista numa
posição demandante e espera que este lhe dê soluções para
o mal-estar por ter se deparado com algo do real. O sujeito
dirige-se a um outro a quem ele supõe ter um saber sobre
o seu desejo. Mas esse Outro, o analista, não dispõe de uma
última palavra, de um derradeiro significante, e se revela ao
sujeito, em sua inconsistência.

A essa falta do Outro, que é de estrutura, o sujeito vai ser
exigido a responder. Para além das suas demandas, perfila-
se a estrutura fundamental do desejo que o divide intima-
mente. No atravessamento ou na desconstrução da fantasia
fundamental, o sujeito vai constatar que se trata de uma
defesa, uma construção, para tentar responder ao enigma
do desejo do Outro – o que o Outro quer de mim?

Para que isso ocorra, o analista deve, durante o processo
analítico, cair da posição vinculada ao Ideal, como tal, para
separar o sujeito do campo do Outro. Na medida em que o
desejo do analista é um X, uma incógnita, ele tende a atuar
no sentido contrário ao da identificação.

Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 33-40, 2017 37
   34   35   36   37   38   39   40   41   42   43   44