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As formações do inconsciente e o desejo do analistaTopologia e desejo do analista: vicissitudes

sença desse objeto e a uma posição que ele assume fora de
sua relação com o objeto, de tal modo que nada jamais se
esgota, pura e simplesmente, na relação com o objeto.

Lacan, em “O Seminário 5”, nos lembra:

[...] a análise se presta para lembrar uma coisa conhecida
desde sempre, qual seja, o caráter vagabundo fugidio,
inapreensível do desejo. Ele justamente escapa à síntese
do eu, não lhe deixando outra saída senão, ser, a todo
instante, apenas uma afirmação ilusória de síntese. Em-
bora seja sempre eu quem desejo, isso em mim só pode
ser apreendido na diversidade dos desejos (LACAN,
1957-1958, p. 332).

O desejo se apresenta sob uma forma ambígua e não nos
permite orientar o sujeito em relação a esse ou aquele ob-
jeto da satisfação. As formações do inconsciente, como o
sonho e o sintoma, vão ao sentido do reconhecimento do
desejo, de um desejo X – desejo de reconhecimento – de-
sejo recalcado. Como desejo de reconhecimento, ele é um
desejo, talvez, mas, no final das contas, um desejo de nada.
É um desejo que não está ali, um desejo rejeitado, excluído.

Podemos colocar o desejo como aquilo que se encontra
além da demanda. É preciso um “além da demanda” na
medida em que, por suas exigências articulatórias, a de-
manda modifica, transpõe a necessidade e cria a possibili-
dade de um resíduo, de um resto.

34 Revista da ATO – escola de psicanálise, Belo Horizonte, Topologia e desejo do analista, ano 3, n. 3, p. 33-40, 2017
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