Page 72 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
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Ex-sistênciaO desejo do analista como operador lógico e o espaço de ex-sistência
do marido. Tento não render muito assunto, pois o telefone
não é o meio mais adequado para se trabalhar, mas permito
que fale, é o que fez algumas vezes, apesar do risco que
corria, pois não é permitido usar telefone. Assim que sai
do hospital pede para voltar. Lá me diz que não quer saber
da psicanálise, pois é muito dolorido e profundo. Digo que
não importa o nome que se dê, mas que é importante que
fale. E ela então retoma sua análise de uma maneira tal,
como raramente havia feito antes. Diante desse fragmento,
vemos surgir algo interessante. A paciente não quer saber
da psicanálise, mas retorna ao trabalho do inconsciente.
Sua angústia, neurótica, é a angústia de castração
e sendo que, para a mulher, que já está castrada desde o
início, ameaça de castração não é Real, porque não toca
o corpo. O que toca o corpo de uma mulher é a angústia
diante das possibilidades de perder o objeto de amor.
Angústia diante do desejo do Outro – Che vuoi? O que sou
no desejo do Outro? É a mesma coisa da angústia frente
ao próprio desejo. Há pouco tempo, seu filho, caçula e
preferido, casa-se. E todos os seus atos antes e depois do
casamento são para ela a justificativa de sua dor pela perda
do filho.
A psicanálise é uma experiência original, nos
diz Lacan, e no começo dela está a transferência; e está lá
graças ao analisante. (Proposição de 9/10/67 – pág 32).
Estamos, pois, no trabalho do inconsciente,
trabalho este que enoda inibição, sintoma e angústia que
se enodam a partir do dizer do analisante.
72 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 69-74, 2016
do marido. Tento não render muito assunto, pois o telefone
não é o meio mais adequado para se trabalhar, mas permito
que fale, é o que fez algumas vezes, apesar do risco que
corria, pois não é permitido usar telefone. Assim que sai
do hospital pede para voltar. Lá me diz que não quer saber
da psicanálise, pois é muito dolorido e profundo. Digo que
não importa o nome que se dê, mas que é importante que
fale. E ela então retoma sua análise de uma maneira tal,
como raramente havia feito antes. Diante desse fragmento,
vemos surgir algo interessante. A paciente não quer saber
da psicanálise, mas retorna ao trabalho do inconsciente.
Sua angústia, neurótica, é a angústia de castração
e sendo que, para a mulher, que já está castrada desde o
início, ameaça de castração não é Real, porque não toca
o corpo. O que toca o corpo de uma mulher é a angústia
diante das possibilidades de perder o objeto de amor.
Angústia diante do desejo do Outro – Che vuoi? O que sou
no desejo do Outro? É a mesma coisa da angústia frente
ao próprio desejo. Há pouco tempo, seu filho, caçula e
preferido, casa-se. E todos os seus atos antes e depois do
casamento são para ela a justificativa de sua dor pela perda
do filho.
A psicanálise é uma experiência original, nos
diz Lacan, e no começo dela está a transferência; e está lá
graças ao analisante. (Proposição de 9/10/67 – pág 32).
Estamos, pois, no trabalho do inconsciente,
trabalho este que enoda inibição, sintoma e angústia que
se enodam a partir do dizer do analisante.
72 Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 69-74, 2016