Page 31 - Revista Ato - O Nó e a Clínica - Ano 3 / nº2
P. 31
Ana Maria Fabrino Favato
Freud designa como o inacessível do Inconsciente. Deve Sobre a consistência.
se partir disso, do quanto facilmente se perde a figuração
desse nó especial que designo como sendo borromeano
e que tem essa propriedade singular de bastar romper
algo que, no entanto, figura aí simplesmente, a saber,
um toro que, justamente basta cortá-lo para se ter em
mão essa espessura, essa consistência, do que faz corda.
(LACAN, 1974/1975, p. 53)
Há, portanto, um campo implícito ao nó que
mostra a inconsistência no enodamento. Esse diz do
recalcado originário ou primordial, que funda a estrutura,
mas faz buraco, sendo o nó um exemplo de armação
marcada pela falha, marcada pelo inconsciente inacessível.
Isso mostra a fenda presente na consistência do nó.
Freud, em a “Carta 52”, concebe o recalcamento
como fracasso na tradução do material psíquico que
provocaria uma perturbação no funcionamento do aparelho
(FREUD, 1986). Vemos, então, que qualquer que seja o
caráter dessa topologia, na sua consistência há buracos,
como num tecido com fios que se cruzam repleto de pontos
de junção e disjunção, de lapsos, falhas, erros de tessitura.
A estrutura traz as marcas desse recalcamento primordial
e Lacan nos convida a examinar seu caminho, pois ele
nos leva ao que não fecha, ao que não encontra resposta,
ao que não acha identidade, ao que não descobre o par, ao
que não leva à proporção, ao que não faz relação. (LACAN,
1974/1975).
Mas a falha não deixa de manter seu sentido ou
seu valor. Quando se considera um buraco, tem-se a noção
Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 27-36, 2016 31
Freud designa como o inacessível do Inconsciente. Deve Sobre a consistência.
se partir disso, do quanto facilmente se perde a figuração
desse nó especial que designo como sendo borromeano
e que tem essa propriedade singular de bastar romper
algo que, no entanto, figura aí simplesmente, a saber,
um toro que, justamente basta cortá-lo para se ter em
mão essa espessura, essa consistência, do que faz corda.
(LACAN, 1974/1975, p. 53)
Há, portanto, um campo implícito ao nó que
mostra a inconsistência no enodamento. Esse diz do
recalcado originário ou primordial, que funda a estrutura,
mas faz buraco, sendo o nó um exemplo de armação
marcada pela falha, marcada pelo inconsciente inacessível.
Isso mostra a fenda presente na consistência do nó.
Freud, em a “Carta 52”, concebe o recalcamento
como fracasso na tradução do material psíquico que
provocaria uma perturbação no funcionamento do aparelho
(FREUD, 1986). Vemos, então, que qualquer que seja o
caráter dessa topologia, na sua consistência há buracos,
como num tecido com fios que se cruzam repleto de pontos
de junção e disjunção, de lapsos, falhas, erros de tessitura.
A estrutura traz as marcas desse recalcamento primordial
e Lacan nos convida a examinar seu caminho, pois ele
nos leva ao que não fecha, ao que não encontra resposta,
ao que não acha identidade, ao que não descobre o par, ao
que não leva à proporção, ao que não faz relação. (LACAN,
1974/1975).
Mas a falha não deixa de manter seu sentido ou
seu valor. Quando se considera um buraco, tem-se a noção
Revista da ATO - escola de psicanálise, Belo Horizonte, O Nó e a Clínica, Ano III, n. 2, pp. 27-36, 2016 31